O IRREPARÁVEL

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Não sinto a alma mas sossego
Mesmo assim sinto que o verso impossível
é o único verso inalcançável no poema da minha alma.
Mesmo assim sinto que minha alma
tem o mesmo peso do irreparável
Sobre não sentir,
Afirmo que no âmago dos meus sentidos,esta o infinito,
O derradeiro tentáculo da transcendência,
Não sinto a alma mas sossego.
Agora respiro as sombras das tempestades
Que encobrem meu pequeníssimo horizonte.
Dizem que já não sinto,
Insisto no verso como para insistir em mim mesmo,
Atiro-me na insistência transcendente de desejar o irrecuperável,
Desfiguro-me sendo quem em sou,
Enésima parte vazia do cosmo,
Animal cuspidor do vulcão inocente que esta na criança-tempestades
Que abriga a criança transparente Que sou eu,
a molécula liberta.
Que cai como uma chuva de pensamentos indomáveis.
Mas ainda sou a união de trovoes
Que ainda não tiveram chance.
Não sinto a alma mas sossego
Perco a respiração quando vejo tua forma de nuvem
Que é a forma de um poema escrito no inesgotável.
Repito-me sempre, assim como a noite
E descubro nisso palavras que disse
A séculos atrás antes de mim mesmo.
Portanto, sou a construção milimetrica.
De inconscientes que se atraem.
Não sinto a alma mas sossego
Busco a musica que ira alegrar meus calcanhares.
Encontro nos rostos cotidianos
A expressão intima do abismo.
Esse poema nasceu dentro do útero
Do grito de toda a humanidade.
E nesse momento sinto uma dor
Que pega o corredor do meu corpo
E se mistura com os universos do vazio
que me usa como escudo de sensações
Que não podem se realizar,
E o oceano quer engolir outro oceano que sou eu,
Por que ele quer ensopar o mundo com tanta lagrima?
Não sinto a alma mas sossego
Nos hemisférios do verso impossível
Os sonhos que por eternidades
Deixaram de ser sonhos
Ressurgem me engolido
Como se eu fosse
Vulcões, mares, desertos, crepúsculos e universos inteiros,
Tudo isso eu mastigo
E vomito na pagina
Faço-me reviver por uma eternidade passageira
O que é ser;
união espacial;
todos os mundos juntos convergindo...
hora absoluta.
Não sinto a alma mas sossego
Por que qualquer espaço vazio momentâneo
Deixa-me inconsolável?
Nos primeiros raios da manhã
Sou o vento capturado pela cápsula da loucura,
No primeiro passo começo a descer
todas as escadas dentro de mim,
Começo a subir os grandes degraus crepusculares,
Começo a escalar os segundos da hora morta,
Começo a ruir em partes simétricas,
No final da tarde chuvosa
Não sou mais tempo-espaço
Sou apenas tempo
às vezes espaço
Ou precipício,
onde a solidão se joga de braços abertos
Trazendo o mundo consigo.
Meu ser torna-se a rua vinte e um de abril
Onde a tristeza passeia de bicicleta num nevoeiro invisível,
Destruo esse pensamento
E começo a ser o consolador irremediável
Da minha pequena partícula de universo intimo.
Não sinto a alma mas sossego
Por isso estou partindo em todos os instantes,
O longe demais é o mais perto que suporta meu ser
Com minha força na ponta dos dedos do poema...
Eu Não sinto a alma mas sossego
O que não traz angustia traz-me solidão verossímil,
Movo-me através de abismos,
Mas sempre caio
No deserto de mim mesmo,
Já estou no chão da hora desgovernada,
Não sinto a alma mas sossego.
Transfiguro-me.
Sou aquela sensação de morte que desce pela goela do grito,
Às vezes no vinho, o gosto tem sabor de memória naufragada,
Não sinto a alma mas sossego.
Quero flutuar para sempre no meu próprio sonho
Como será ser a nuvem do seu próprio sonho?
O verso que me acalma esta na tua alma
Onde esta tua alma nesse exato infinito instante?
Onde esta teu rosto irreversível ao controle do tempo?
Não sinto a alma mas sossego.
Cuspo-me na extremidade,
Quero compartilhar com minha amiga seu cigarro eterno
Para eu finalmente provar a saliva do mundo.
Cansei de tropeçar em invisibilidades,
Deito no colo dos pensamentos e espero a asas,
E se elas não existirem?
O que me move para fora do percurso
Do meu próprio universo?
Cravo meu dentes na rotina cotidiana e percebo...
Não fui...
Nunca fui parte do todo
Nem quando desejei ser,
Sou parte do vazio mesmo sendo também
Parte da angustia mesmo sendo parte da lágrima
Mesmo sendo algo que definha com as coisas que definham
Mesmo sendo o infinito inclinado para um caos absoluto,
Bebo as bordas e abocanho pequenos sonhos irremediáveis,
Mas ainda tenho que bater o ponto no meu trabalho invisível.
A fragilidade não esta no meu rosto,
Sou transparente perante o crepúsculo
Na aurora uso a máscara cheia de poemas,
Respiro o ar das multidões e adoeço de inconsolável,
Só me quebro nas pequenas quedas,
As pequenas coisas para mim são pequenos oceanos
Mergulho-me...
O mundo lança sua rede inominável,
Sou aqueles pequenos objetos perdidos e mudos de versos,
Retorno à tona no confim de mim mesmo
E sinto meu chão de deserto e não sinto meu chão de galáxias,
Todos no congresso devem estar achando
Que sou apenas parte dos segundos,
Todos a minha volta devem estar preocupados
Com seus dejetos fabricados na hora escura do relógio,
Todos que não me conhecem
Devem estar mergulhados nos seus próprios livros íntimos
Achando que isso não passa
De uma autoconsolação de mim para o nada,
Responderei a todas as almas quando sentir a minha,
Escreverei o verso ainda não lido quando encontrá-lo em mim,
Lerei a carta redigida pelo silencio para meu choro de criança oca,
Mas... ainda
Não sinto a alma mas sossego.
Mesmo assim quero engolir todas as tempestades
Não sinto a alma mas sossego
Digo
Todas as tempestades
Não sinto a alma mas sossego
E implodir de eus
Não sinto a alma mas sossego
Na ultima eternidade da alma
De todas as poesias.



De: João Leno Lima

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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