POEMA ENTRE O TEMPO E O ESPAÇO

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a união de intermináveis vazios assola minha alma,
fragilidade que percorre as artérias e sai pela boca consumida,
detritos que rasgam a pança de um confim que cansou de ser imaginário,
ah como é infindável esse deserto
era como se eu percorresse todas as almas solitárias dos poetas
com pés sepultados na minha própria sombra
e descesse pelas paredes de vidros dos sonhos envidraçados,
a fumaça dos carros no caminho para o trabalho me elucina
e me perco na contramão de mim
lambendo o infinito com uma língua cheia de espinhos translúcidos,
vazo pelos pesadelos dos ecos pisoteando
o invisível visivelmente meteórico,
minha lança poética e cotidiana atravessa o coração da aurora
e leva meu sonho ate altas montanhas imaginarias
que flutuam pela calçada do meu sentido,
ah o sexto dos meus cinco sentidos é o primeiro ato
da peça abismal da minha fuga invariável,
preciso respirar.
léguas de memórias afundando.
estendo a mão em neblina que trago de volta a lagrima inerte,
respirar hoje em dia é o penso logo existo da nossa época
tantos silêncios ensurdecedores,
camadas cósmicas desprezadas por passos sintéticos
saídos de bloco de gelo que deslizam nas paradas de ônibus,
pelos portes em forma de farol crepuscular
pelos bancos lotados de fantasmagóricos futuros,
onde minha cabeça rola entre os corredores
e é esmagada pelos talões de cheques
e palavras precisas que perfuram meu cérebro
como parafusos surrealistas atrofiando meu fim sepultado no tempo,
me sinto lagrimejante e fragilmente sonhador,
me sinto a bússola perdida de uma navegador
num mar abstrato insuportavelmente consciente dentro de mim,
para tudo que for suportável
para tudo que me lançar num chão banhado de angústias,
para tudo que descabelar meu universo com outros universos
engolidores do fogo vulcânico que sai da minha pulsação enorme,
para tudo que for ilimitado como as dores na alma e o amor inconsciente e incontrolável,
para tudo que me faz voltar a mim mesmo
abismando minha sombra que como nuvem esfria meu silencio,
para todos os poemas que se fundem na minha saliva
virando mãos que me sufocam quando a insônia
é uma pequena grande tempestade que para por cima da minha noite desolada,
poderia dizer que as horas se derretem mas
na verdade elas acidam meus segundos decompostos
com vômitos inconseqüentes que apenas meu olhar produz nas vaginas da manhã,
evaporando a nuvem que faz minha memória
lembrar de si mesmo por ser diluída em fragmentações,
mesmo que para isso eu tenho que enterrar meus desejos de voar
nos altos de mim mesmo e respirar o ar melancólico das sensações inrenascidas,
vácuo ha um longo vácuo que vaguei insano a mim,
corro mais uma vez
pés-tempo
maos-segundos
corpo-eternidade
alma-infinito de todos os infinitos,
desdenho as formas simétricas
e calabouços falsos da palavra,
desdenho a conjunção dos astros ao meu redor,
desdenho poemas nunca escritos por um medo latejante,
desdenho os poetas que sobem nas cadeiras
deixando seus poemas no chão para que sua voz seja ouvida
nos quatro cantos menos a voz dos seus próprios versos inanimados,
desdenho um punhado de delírios porque a alma é o próprio delírio convexo,
desdenho-me por não sei onipresente mesmo que seja flexível,
desdenho-me por ter sido nada enquanto
que a vida é tudo inrrespondivelmente transcendendo,
ah almas obsoletas desdenho os olhares que só olham suas próprias pegadas,
os balcuciadores de verdades vindas de seus próprios vícios por si mesmo,
minha alma mergulha novamente
nas estradas oceânicas dos anseios febril por espaço e tempo,
trêfego entre auroras e crepúsculos
e jamais encontro o infinito ultimo das sensações humanas,
por isso persisto como a poesia que persiste em reviver
a cada nova leitura e estraçalha o passado onisciente,
persiste em mergulhos e mergulhos imperceptíveis,
por que nenhum grito e nenhum silencio intimo
é tão imperceptível quanto meu infinito único,
nunca entendi o que significa ser realmente poeta
por que a poesia é para ser sentida como a soma
de todos os universos interiores inteiros,
por que ser poeta é esta dentro de todos os universos
e não fazer parte de nenhum
sendo todos ao mesmo tempo,
ser cada letra,
cada verso,
cada palavras
ser cada ser
em minúsculos sentimentos inesgotáveis,
minúsculos eus se proliferando na porta do futuro,
minúsculos corpos burlando as câmaras de segurança do mundo,
minúsculos dedos tocando a íris da desmemoria,
minúsculas libertações dos cadeados momentâneos do meio dia,
minúsculas chuvas despencando na minha pálpebra almatica,
me afogando como quem afoga um fugitivo num mar despedaçado
no lagrimejante dia que contamina o outro e o outro e outro
para desaguar na falta de respiração trasncedente,
pequena morte de cada instante,
pequeno baile fúnebre de nao-eternidade,
a grande utopia da existência humana
é não querer existir existindo
é estar sobrevivente num mundo onde só o existir
é ser poeta e ser poeta é ser a própria utopia e ser livre...

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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