SEPARAÇÃO MOLECULAR

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Quando as luzes do sonho se apagaram como uma paixão inicialmente muda, como quando atravesso o caminho obscuro de mim mesma e encontro com as mágoas infantis coaguladas dispersas em nós subterrâneos com dimensões crepusculares e nunca consoláveis...
Perdi o mundo como a vida perde a inocência e anoitece deixando tudo irrecuperável e a existência com a boca cheia de cacos e restos de cotidiano que sabem seu destino em um horizonte sempre entardecendo na goela mágica e multicolorida que se contrai como quem fundamenta o suicídio.
O poema se perdeu nos labirintos da hora e nas palavras que se repetem e no dejavú da página em branco esperando ser fecundada como uma desconhecida que supera a si mesma e está esgotada de se percorrer e perder a força, perder o sentido, perder-se em seu próprio vazio... É quando a sensibilidade dá os braços ao desequilíbrio fragilizada por ter envelhecido anos luz além de suas possibilidades que acima de qualquer coisa não se sente, não se fere nem se afaga apenas vagueia no mar impenetrável da consciência cardíaca de alguém que percebeu a si e não contava com a angústia desproporcional ao seu corpo.
Neste momento, até a dor se perde e os instantes não se descuidam de coisa alguma e suponho que perdi teu afeto também, mas o acaso me entrega boletins que matematicamente apostam na manhã completamente subjetiva e fisicamente os olhos abrem a biologia desperta os membros rastejam fora da cama cruel da madrugada a luz do imprevisível alimenta os olhos da alma antes de maltratar, antes de mostrar o inevitável, antes de assustar, antes de deixar tudo só, tudo inalcançável dentro de si e além como as nuvens que não tocam o oceano, mas estão sempre pertos em paralelas tempestuosas até se desfazerem em partículas inimagináveis no infinito.
O distante da mente espera o sol, espera ser soterrado de luz e calor todos os dias, as cartas esperam respostas, a sensação acontece horizontal e não se pode querer mais do Universo do que sentir, a intensidade é o abismo de ambos.
O sonho é toda realidade, um pensamento que se alarga iluminado e também se perde, um poema interminável que tece sua teia com fios imaginários e pontos possíveis por todo o tempo, mas este sonho jamais cruzaria as pontas aéreas da dor real, não há coexistência para estes mundos. O sonho espera terminar entre anjos e eternidade, espera nascer depois que a dor termina ou depois que todos se descuidam e o sentido se desfaz dentro de sua própria estética, depois do palácio das palavras não ditas, abaixo de cada inalcançável particular, do lado esquerdo da minha alma, dentro do furacão das horas, em cada molécula da vontade, acima da repetição dos pensamentos, por entre as pernas impossíveis do absoluto e desde o primeiro poema imaginadoejaculado dos confins obscuros de alguma alma atormentada que também se perdeu antes destes versos.
Em que fração de segundo as mãos da infância se desprendem da ternura e se abandonam na selva insensível das previsibilidades? Quando o silencio chega ao litoral inabalável do coração? O amanhã sabe das portas inacessíveis que deve arrombar para poder escapar de seus fantasmas aniquiladores com chaves irreais, em assombrações interiores jamais vistas para que seu sol não se perca e para o luar impiedoso possa cruzar as fronteiras medonhas da noite que seduz o pensamento a uma embarcação desconhecida com um oceano feroz fazendo constelações com suas próprias lágrimas e para jamais cambalear para o redemoinho secular com fundo falso do amor, o núcleo de abismo e naufrágio da espera sem par com a tontura das sensações crescentes até o desespero no pátio das emoções e o cair de máscaras involuntariamente depois de três princípios o pensamento desaba de cara no chão e no ponto de todas as coisas se perde.
A nascente do dia não tira nada do seu lugar a manhã chega ao cais da vida e observa o mundo funcionando com olhos onde a noite foi sepultada e todas as torturas acendem suas luzes para o breu da minha covardia o Cosmo afunda proporcionalmente em mim a instabilidade dos sentimentos que antes de terminar já estão perdidos.

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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