A PAIXÃO SEGUNDOS APÓS A QUEDA

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15:36

 (Ao som da “Paixão segundo São Mateus” de Bach)

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Quadro: El Triunfo de Galatea

 

I

Subi os altos degraus da consciência

e observei de longe as longas caldas do divino

Debruçadas sobre as árvores da inconsciência dos seres

Onde, poetas como eu e outros, se nutrem de imensidões

quase azuis e estrelas inventadas a lápis.

Ao tocar os corrimões, sinto as asas do destino

se penduraram sobre meu braços

a me ajudar a remar sobre as catedrais da minha angustia.

Eu, fraco viajante que viaja em si mesmo

Estarei perto das fronteiras

e decidirei com quem entregar o próximo verso.

Nessas horas, meus poemas, em bailes diversos

num salão onde homens e mulheres chamam de ruas

se abraçam em profunda comunhão de distâncias;

correm pelas encostas da melodia

que era ouvida e lentamente se esvai...

 

II

Continuo a subir.

Uma febre me alcança enquanto descanso num degrau de montanha,

vejo os incertos barcos rumando ao contrario

sinto um pequeno avesso sentimental

caio em prantos lagrimando cordas bambas

coloco a mão no rosto para evitar olhar

para os passaros-espelhos nas esquinas,

quem num ato de coragem poética ousa rasgar sua poesia

que por alguns segundos lhe trouxe paz?

e essas páginas?

quem ousaria reescrevê-las apenas para recriar o tempo passado?

o sentimento não está corrompido

pela sutiliza do ir e vim das coisas?

Nesse momento,

as escadarias por onde passo são degraus feitos, por crianças

Elas me esperam no alto me mim mesmo

e mesmo assim ainda me vejo abaixo do todo.

 

III

No fundo um abraço parece ser a mais elementar

da satisfação eterna.

Se elevo meus olhos para as nuvens e ouço as palavras divinas

precisava ser mar para entender a voz que me ergue,

Aperto suas elementariedade íntima a mim,

como o tenor no momento máximo da ópera.

E mesmo deslizando – minhas mãos- entre seus dedos

sinto-me vivo por como o pássaro

que mesmo sofrendo de frio ou sede, fome...

sabe que sua morada está além dos ventos

 

IV

Continuo subindo...

a certeza afeta-me a certeza da incerteza

e traduzo para deus

quem sou...

 

 

 

 

 

 

 

João Leno Lima

Entulho Cósmico

Toda a palavra é um verso e todo o verso é um infinito

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