WikiLeaks detalha projeto imperialista dos EUA no Haiti

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[John Marion, Tradução de Diário Liberdade] 28 de julho de 2011. WikiLeaks lançou cabos das embaixadas dos EUA em Porto Príncipe, Haiti, Nassau e Bahamas, detalhando o interesse do governo dos EUA na formação e manutenção de uma força militar da ONU para a ocupação do Haiti após fevereiro de 2004 e a eliminação do presidente Jean-Bertrand Aristide. Cientes da história tanto do Haiti como uma colônia francesa e a longa história de ocupação militar do país pelos Estados Unidos, o governo dos EUA passou a usar a ONU como uma camuflagem.


Na imprensa burguesa, a MINUSTAH (sigla francesa para a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti) é passada como uma força de paz em um país incapaz de se autogovernar. No entanto, em primeiro de outubro de 2008, o texto intitulado “Por que precisamos da presença de MINUSTAH no Haiti”, o então embaixador do Haiti Janet Sanderson escreveu que “a Missão de Estabilização da ONU no Haiti é uma ferramenta indispensável para a realização dos interesses políticos no Haiti do núcleo do Governo dos EUA”. Estes interesses incluem suprimir “forças políticas insurgentes  populistas e a economia  antimercado” e um possível “êxodo de migrantes por via marítima”, mantendo o país aberto ao investimento estrangeiro e os lucros.

Embora observando que a MINUSTAH tenha custado aos EUA e seus aliados $ 2 bilhões até 2008, Sanderson escreveu que a força da ONU era “um negócio de segurança financeira e regional para a USG.” Dadas as ocupações contínuas no Iraque e no Afeganistão, ela argumentou que “no contexto atual dos nossos compromissos militares em outros lugares, os EUA sozinhos não poderiam substituir esta missão.”

Além de proteger os interesses comerciais, este “negócio de segurança” comprou para EUA uma fonte de informação sobre a evolução política. Um texto de fevereiro 2010 do embaixador Joseph Merton descreveu uma “série de 145 focos de grupos (10 pessoas cada)” organizados em todo o Haiti pela MINUSTAH para medir o ânimo popular após o devastador terremoto de janeiro 2010. Enquanto se prepara para os focos dos grupos, o diretor político da MINUSTAH alertou a embaixada que os opositores do presidente René Préval poderiam “aproveitar da insatisfação pública para organizar protestos, enfraquecer o GOH, e procurar... o acesso ao controle dos fundos.”

MINUSTAH não é nem a primeira nem a última força militar a impor os interesses dos EUA no Haiti, como evidenciado pelo envolvimento direto dos militares dos EUA após o terremoto de 2010, é, no entanto, uma parte dessa longa e sangrenta história.

Por exemplo, um relatório publicado pelo advogado de imigração Thomas Griffin e o professor Irwin Stotzky da Universidade de Miami descreve algumas das atividades de “paz” durante um período de 10 dias em novembro de 2004. Os soldados da ONU, sempre em veículos blindados, acompanhavam a Polícia Nacional Haitiana (PNH) em incursões assassinas nas favelas mais pobres em Porto Príncipe.

“Quando eles estão em uma operação”, segundo o relatório da MINUSTAH, “APCs são montados com uma grande metralhadora, fixada e manejada por um soldado. Ele é cercado por outros soldados que estão dentro do APCs com suas cabeças e ombros expostos, cada um segurando um rifle de assalto na posição pronta. “Com esses veículos em alta velocidade nas ruas movimentadas e estreitas, as mortes de civis foram inevitáveis. Porque nenhum dos soldados da ONU falou crioulo, a violência foi agravada por sua incapacidade de se comunicar tanto com os moradores ou com a Polícia Nacional Haitiana.

Griffin e Stotzky observaram uma invasão na favela de Bel Air: “a operação começou com um ou dois helicópteros pairando sobre o bairro-alvo, enquanto oficiais da PNH reuniram-se em caminhões (picapes e SUVs) e a pé do lado de fora. A maioria dos oficiais vestidos de preto, com capacetes pretos e máscaras, todos carregavam grandes rifles semi-automáticos, ou rifles de assalto totalmente automático”. Não apenas os soldados da ONU participam na violência – atirando em um homem que estava simplesmente caminhando para o trabalho – mas eles também usaram seus APCs para vedar o bairro do acesso dos repórteres. O tiroteio durou horas, e em suas consequências os investigadores testemunharam uma rua repleta de corpos.

Em uma petição em separado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Griffin e outros 13 descrevem os resultados de um ataque de Junho de 2005 pela MINUSTAH em Bel Air: sete mortos, incluindo um homem desarmado sentado em uma cadeira de rodas em seu pátio, que foi baleado por soldados brasileiros.

Relatórios epidemiológicos de confiança têm ligado também soldados da MINUSTAH à epidemia de cólera que já atingiu mais de 363 mil haitianos, matando pelo menos 5.500 no ano passado.

Textos lançados pelo  WikiLeaks também expuseram outras operações militares dos EUA afetando o  Haiti. Três textos provenientes da Embaixada dos EUA em Nassau, Bahamas, descreve o planejamento das operações navais conjuntas para manter refugiados haitianos longe daquele país.

WikiLeaks está trabalhando com o Haiti Liberte, uma publicação semanal simpática a Aristide e publicada por membros da diáspora haitiana, para liberar os textos. Em seus artigos, Haiti Liberte colocou muito foco sobre as ações dos indivíduos e das maquinações políticas do governo dos Estados Unidos. Em liberar os três textos do Bahamas, por exemplo, o site se concentrou na busca de um pretexto dos Estados Unidos para derrubar Aristide, enquanto o governo das Bahamas foi pedindo a ajuda dos EUA em protegê-lo.

Em abril de 2003, escreve Haiti Liberte, os EUA estavam tentando usar uma cláusula da “Carta Democrática Interamericana” da OEA para “encontrar uma alavanca pseudo-judicial para eliminar Aristide”. Mais tarde, em fevereiro de 2004, enquanto o primeiro-ministro das Bahamas Perry Christie pleiteou com os EUA para impedir o iminente golpe, um texto arrogantemente se gabou de que ele iria “Conceder para os EUA como ‘cão superior’”.

Para a maior parte, Haiti Liberte perde o quadro mais amplo de esforços militares dos EUA na região. Em 23 de fevereiro de 2004, o texto da embaixada Nassau, por exemplo, descreve os pedidos de ajuda do governo das Bahamas para o governo dos EUA na construção de um porto de águas profundas das Bahamas para a Real Força de Defesa para usar como base, enquanto voltam barcos de haitianos refugiados.

Um exercício naval dos EUA com o owerlliano nome “Operação Compaixão”  estava sendo realizado para este propósito, e os EUA estavam dispostos a oferecer o reabastecimento na Baía de Guantánamo se Bahamas se comprometesse com pelo menos três navios para o exercício. Argumentando que o reabastecimento em Guantánamo seria mais barato do que ajudar a construir um porto na Ilha Great Inagua do arquipélago das Bahamas, a embaixada dos EUA se recusou a fornecer fundos para esse esforço. O governo das Bahamas tinha um plano reserva de pedir a Royal Caribbean Corporation para ajudar na construção do porto.

Um dos textos de Nassau também indica que a MINUSTAH iria disfarçar um renovado desejo francês de enviar tropas: “Enquanto a França indicou a disposição de enviar ajuda militar para o Haiti, o espectro das tropas francesas no Haiti neste momento é uma questão muito sensível, particularmente como a França é a ex-colonizadora e o Haiti está ‘comemorando’ o aniversário de 200 anos independência. Um despacho conjunto sob a bandeira da ONU seria mais palatável”.

Traduzido para Diário Liberdade por Pamela Penha

 

 

TEXTO ORIGINAL EM> diarioliberdade

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