A ARTE DE SUBVERTER A TECNOLOGIA

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Por:  Michelle Delio 


NOVA YORK - A atividade dos hackers já foi descrita como um crime, como uma compulsão e como o resultado geralmente problemático de uma curiosidade fora de controle. Raramente alguém que não se considera hacker tentou retratar a criação, exploração e subversão da tecnologia como uma forma válida e elegante de arte.


Mas uma nova exposição que inaugura nesta sexta-feira no New Museum of Contemporary Art (www.newmuseum.org) de Manhattan, intitulada Open_Source_Art Hack(www.netartcommons.net/), pretende mostrar como o ato de hackear e a ética do desenvolvimento de códigoe aberto - participação direta, investigação profunda e acesso à informação - podem ser considerados arte.
Cada obra apresentada na exposição traz alguma tecnologia que foi alterada por seu criador como uma forma de ativismo - algo que os curadores definem como "o hack enquanto prática artística extrema". "Originalmente", diz Jenny Marketou, artista da nova mídia e curadora de Art_Hack, "a palavra Hacker, como foi cunhada no MIT nos anos 60, era sinônimo de virtuose no computador. Hoje ela representa reapropriação, reforma e regeneração, não apenas de sistemas e processos, mas também de cultura".


A arte criada com a ética do código aberto permite que os artistas ofereçam mais do que apenas imagens bonitas. Eles podem produzir ferramentas funcionais que podem ser usadas por eles e por outros para criar novas formas artísticas, afirma a diretora do museu, Anne Barlow. "E dada a natureza do código aberto, o processo pode ser tão importante quanto o resultado", afirma.
De fato, o processo - como a obra foi criada e como poderá evoluir - é um dos principais aspectos da exposição. O ativismo - usar a arte e o hacking para modificar um sistema ou sabotá-lo completamente - é outro. Nesta exposição, o visual das obras não importa muito. O importante mesmo é o que se pode aprender e fazer com elas. "Cheguei à conclusão de que hackear é um processo que envolve uma combinação de informação, disseminação, ação direta, habilidade e soluções criativas", diz Marketou. "É um fenômeno importante e uma metáfora para como pensamos e manipulamos digitalmente a cultura em rede que nos cerca".

Art_Hack trará uma série de exibições interativas que envolverão os visitantes no ato de alterar ou minar o código usado no dia-a-dia pelos softwares e pela sociedade. Uma das instalações permitirá que os visitantes clonem (www.tracenoizer.org) seus próprios "corpos de dados" e os libertem na Internet. Os "clones" servirão como uma espécie de "dupla identidade", permitindo - em teoria - que seus donos evitem qualquer invasão de privacidade destinada a coletar informações. Um outro trabalho que faz parte da exposição explora a mesma idéia de desinformação ao usar ferramentas automáticas para criar páginas da Web falsas. As páginas falsas são então propagadas através de vários sites de busca, impossibilitando a verificação dos dados pessoais verdadeiros dos participantes. A idéia surgiu a partir da prática comum de fornecer dados falsos nos formulários de registro online.


Em Anti-wargame, o artista Josh On, do grupo Future Farmers (www.futurefarmers.com), desafia as idéias que existem por trás da maioria dos jogos de computador. No jogo desenvolvido por On, os jogadores ganham pontos ao demonstrar até a menor noção de consciência social.

O projeto CueJack, assinado por Cue P. Doll/rtmark, transforma o infame CueCat, um aparelho eletrônico destinado a fornecer informações de marketing para as empresas, em uma ferramenta capaz de fornecer dados aos consumidores. O Cuejack (www.cuejack.com) dá aos consumidores o acesso a um banco de dados contendo informações "alternativas" a respeito do fabricante dos produtos passados na leitora.

"Tenho grande interesse pela forma como os artistas distorcem o uso da tecnologia, aplicando-a em propósitos para os quais ela não foi planejada ou sancionada", diz Steve Dietz, curador de nova mídia do Walker Art Center (www.walkerart.org) e co-curador de Art_Hack. "Esse tipo de transformação parece ser um aspecto comum, se não fundamental, de todo uso artístico da tecnologia, inclusive a programação e o ato de hackear".

Também serão exibidas obras de arte criadas a partir de dados coletados por grampos eletrônicos conhecidos como "package sniffers". O projeto permite que os visitantes do museu testem as condições de segurança das redes de computadores de vários grupos ativistas. Quando o sniffer encontra uma brecha, um show de luzes e som se inicia.

"Devido à natureza dessa exposição, tive a oportunidade de questionar e ser questionada pelo museu em relação a várias questões legais abordadas por alguns trabalhos", conta Marketou. "Acho surpreendente como a maioria das instituições culturais desse país não estejam preparadas para abrigar exposições como esta por causa de questões técnicas e políticas associadas com algumas destas obras".

A exposição Art_Hack abre com a Noite da Cultura Digital, promovida por Marketou e Dietz, durante a qual se discutirá os méritos artísticos do hacking. Outros programas incluem um debate promovido pelo hacker alemão Rena Tangens a respeito dos conceitos americanos e europeus de privacidade, e um passeio pelas ruas de Manhattan com um guia que irá mostrar aos participantes a localização dos equipamentos ocultos de vigilância instalados na região.


Texto extraído da Wired News em português (www.wired.com.br).

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Um comentário:

  1. Em um mundo marcado pela falta de ética e pelo império do absurdo - o Google pretende ferir toda a privacidade de seus usuários -, alimentar sentimentos morais parece apenas "nonsense".
    Meu blogue "Processo" voltou com toda a força.
    Vasconcellos Rego

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