simon reynolds e a arte da crítica

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Por | Joao Roc

 

Com pouco mais de 20 anos, Simon Reynolds já era um dos grandes nomes da revista britãnica Melody Maker. Esta havia, na década de 60, se tornado uma das grandes referências da música underground do Reino Unido, considerada a “voz” do progressivo. Entretanto, perdeu espaço com o advento do Punk. Então, anos depois, para rivalizar com a forte NME, um grupo de jovens impetusos escritores começaram a redesenhar o períodico e este em pouco tempo se revelaria um dos mais febris e pontuais da crítica musical inglesa, já nos finais dos  anos 70. Recuperando seu posto e sendo a porta-voz de novos grupos, movimentos e a cena pós-punk até o início dos anos 90.

 

‘Beijar o Céu’ foi lançado pela Editora Conrad com tradução de Camilo Rocha e traz alguns dos mais fantástico trabalhos da crítica musical dos anos oitenta e noventa sob a escrita análica, séria e apaixonada de Simon Reynolds. Os artigos versam sobre a rivalidade entre Hip-Hop e Indie Rock por exemplo. O crítico adentra o universo dos Rappers, com profunda análise sobre trabalhos como ‘Rhythm King’ de Schoolly ou ‘Music Madness’ de Mantrnix, passando pelos Beastie Boys. Para Renolds existe uma ruptura de aborbagens entre o pop que ele chama de ‘branco’ e o que ele chama de ‘negro’. O primeiro busca raízes na realidade: “O rock branco se volta cada vez mais para dentro, garipando o estreito veio de seu próprio passado” enquanto que o segundo se agarra à “protolocos sexuais” e “caricaturas utópicas

 

Outra pontual artigo é o fantástico  “Peal Jam versus Nirvana”. Reynolds traça um imparcial paralelo entre os dois frontmans. Enquanto Vedder parece exibir um tom messiânico em suas apresentações com o Peal Jam, uma espécie de líder de uma geração de jovem perdidos,  o Nirvana parecia querer sabotar sua próprio carreira depois do aclamado Nevermind. Mas ao contrário do que possa parecer, apesar das intensas contradições e do aparente (e real) antagonismo entre ambos, o escritor não julga, não ergue planos morais ou filosóficos, se atenta a fatos, palavras, letras das músicas e o contexto daqueles anos, para no final escrever taxativamente: “Junte Vedder e Cobain e você terá algo próximo de um ser humano por inteiro

 

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Outra grande trabalho dessa coletânia de artigos que é “Beijar o Céu” se faz sobre a banda inglesa Pink Floyd e sua primeira figura icônica, Syd Barrett. Simon se concentra em um dos temas centrais do grupo, “o fim da infância”, as relações do antigo vocalista em seu contexto familiar e como isso moldou a visão dos primeiros álbuns,  sobretudo “Piper at the gates of dawn (1967) e A Saucerful of secrets (1968) dos Floyds.  Em outro ponto de grande relevância nesta passagem é quando Reynolds analisa a importância do Pink Floyd para bandas que nasceram justante de sua temáticas pastorais, como o “shoegazes” e indo mais a fundo, o legado da banda britânica para a geração rave dos ano 90.

 

Ainda dos anos 90 mas especificamente nos anos 00, Simon Reynolds faz uma análise sobre como uma banda com alta vendagem e comoção no mainstream, como o Radiohead, conseguiu ser capa de uma das mais respeitáveis e considerada uma das revistas alternativas mais importantes do mundo, a The Wire.  Para isso, o crítico se aprofunda em uma hilária, surpreendente e relevadora entrevista com os membros da banda de Oxford. E se choca com a simplicidade, quase constragedora de Thom Yorke, para quem se acreditava ser uma figura de caráter problemático, como sugere os discos do Radiohead pós-Ok Computer (1997) revelou-se simples, modesto em sua real dimensão para o rock. Fuga ou escudo ou simplesmente um artista na real dimensão do termo.

 

 

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Morrissey (quem Reynolds é fã), de Joy Division ao rap feminino à geração pós-rave, o delicioso trabalho de construção de uma critica que foge do óbivio, do lugar comum, que tenta aproximar o leitor do mais próximo possível da experiência de ouvir um álbum em palavras. Estes são alguns dos grandes triunfos destes artigos compilados em “Beijar o Céu”

 

Importante dizer que Simon Reynold também colaborou para algumas das mais importantes publicações do mundo como The New York Times, The Guardian, New Musical Express e a The Wire.  Alguns artigos deste trabalho foram  tirados de alguns dos seus melhores livros como The Sex Revolts: Gender, Rebellion And Rock’n’Roll (1996) e também do Rip It Up and Start Again: pós Punk 1978-1984 (2005). Além de matérias das publicações no qual ajudou a construir um legado.

 

“Beijar o Céu” é para todos, como fator histórico e riqueza cultural e também para quem gosta de ler sobre música, pormenores, construções apaixonadas e tramas filosóficos em suas entrelinhas, algo só possível com alguns dos grandes artistas compilados nesse trabalho.

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